Querida Anne,
Obrigada por teres escrito o teu diário. Sei que no início serviu apenas como um escape aos problemas do dia-a-dia, mas que depois, enquanto estavas escondida no anexo secreto e ouviste o Sr. Bolkestein pela rádio a dizer que seria feita uma coleção de diários e cartas após a Guerra, quiseste partilhar a tua escrita e uma parte tão pessoal de ti com toda a gente.
Confesso que adiei a leitura da tua famosa obra mais de uma década. Lembro-me de estar na biblioteca da minha escola no 5º ou 6º ano e ver o teu livro em destaque. Muita gente falava dele, mas eu sabia que retratava uma das épocas mais negras da história e não tive coragem. Para ti deve parecer algo disparatado: não querer ler um livro. Tu, que encontravas nos livros uma escapatória à realidade e onde aprendias sobre história, mitologia grega e a tua odiada matemática.
Isso para além da "falta de coragem". Eu aos 12 anos não quis ler um livro, quando tu aos 12 anos estavas a passar o último ano da tua vida em liberdade. Já aí falavas das diferenças entre um cidadão judeu e um cristão, mas mesmo assim continuavas a poder ir à escola e estar com os teus amigos.
Foi uma querida amiga minha, que visitou o teu refúgio em Amesterdão, que me emprestou o teu querido diário para, aos 25 anos de idade, lê-lo finalmente.
E como é estranho eu, aos 25 anos de idade, ler os pensamentos de uma adolescente de 13 anos. Somos tão dramáticos e cataclistas nessa idade. É absolutamente normal. Os pensamentos que tiveste sobre os teus colegas serem infantis, sobre os teus pais não te compreenderem e até os pensamentos sobre ti própria e a descoberta do teu corpo e do amor são normais. O que não é normal é teres passado por essa fase da tua vida obrigada a viver todas as horas do teu dia com mais 7 pessoas num espaço pequeno, só porque alguém decidiu que queria exterminar pessoas inocentes.
Lamento tanto, Anne, que não tenhas tido a oportunidade de ter uma melhor amiga com quem falar sobre todas estas coisas, para saberes que não estavas sozinha. Lamento que não tenhas tido a oportunidade de sair à rua e espairecer de cada vez que tinhas um desentendimento com os teus pais. Lamento que tenhas passado as noites e os dias com medo de seres descoberta e levada para um campo de concentração, longe dos que amas.
Deixa-me dizer que o teu talento é ímpar Anne, escrevias mesmo muito bem, principalmente em tão tenra idade. Escreveste "Quero ser útil e levar prazer às pessoas, mesmo àquelas que nunca conheci. Quero continuar a viver depois da minha morte!" e acredita que conseguiste realizar o teu sonho de pequena escritora. Mesmo que não tenhas conseguido sabê-lo em vida.
Agradece ao teu pai - o Pim - que tanto amavas. Foi ele que partilhou este diário com o mundo. Foi ele que possibilitou tocares no coração de tanta gente e deixares a tua marca na história.
Que continues a inspirar a humanidade por muitos muitos anos querida Anne.
Com amor,
Kitty
(Se como eu, andam a adiar a leitura d'O Diário de Anne Frank, deixem de o fazer. Vale mesmo muito a pena, mesmo com a sensação de coração partido a cada página)
Que carta tão amorosa e sincera :).
ResponderEliminarAos 20 anos de idade, ainda não tive coragem de ler o diário dela. Também o tive na mão aos 13 anos, mas naquela idade ler " A Lua da Joana já me tinha chocado o suficiente. Mas vou ler. Porque a história dela merece ser lida.
Cada vez que penso nela, fico revoltada. A crueldade do mundo fez com que ela passasse uma fase tão bonita como a adolescência fechada num anexo.
Beijinhos
Blog: Life of Cherry
São belas palavras! Beijinhos, bom domingo :)
ResponderEliminarEu já li o fim!
ResponderEliminarVou tentar fazer isso...
ResponderEliminarObrigada pela partilha ❤
A carta está tão amorosa, tão sincera, que é impossível não nos comovermos e ficarmos indiferentes a cada palavra *-*
ResponderEliminarQuero lê-lo há anos, mas, estupidamente, fui adiando a leitura. No entanto, este ano comprometi-me a reverter essa situação e já o adquiri!
Eu li o "Diário de Anne Frank" emprestado quando era adolescente. Aliás devia ter a idade dela. Mais tarde, aos 27, visitei a casa em Amesterdão e quando voltei comprei o livro para o ler outra vez. Ainda não o fiz.
ResponderEliminarBeijinhos e obrigada pela lembrança deste livro na minha estante que quero muito reler.
Esta carta está qualquer coisa, tão sentida!
ResponderEliminarÉ um dos livros que mais quero ler, mas ainda não tive coragem.
Tenho de o comprar e tratar disso.
Que lindo e emocionante seu texto Catarina.
ResponderEliminarUma vez na faculdade eu fiz uma pequena pesquisa sobre a prática do "diarismo", essa nossa vontade de escrever sobre nós mesmos em diários ou em blogs (como fazemos hoje).
Uma das autoras analisadas foi a Anne.
Mas eu não li o livro na íntegra.
Quero muito fazê-lo.
Abraço.