domingo, 4 de novembro de 2018

Quando somos os maus da fita

Há uns tempos, por coincidência, na mesma semana vi "os portugueses" serem mencionados em duas séries estrangeiras.
Normalmente sinto um certo orgulho quando o meu pequeno país ou alguém da minha nacionalidade é mencionado em grandes produções, mas naqueles dois casos não foi isso que sucedeu. Tanto em "Outlander" como em "Jamestown" (não falei por aqui desta série porque é daquelas que vejo mas não acho nada de especial), os portugueses eram referidos devido a um período incrivelmente desumano da nossa história: o tráfico de escravos.
Na escola, sempre que falávamos dos descobrimentos e das colónias que conquistámos, os meus professores referiam os acontecimentos históricos com imenso entusiasmo e orgulho, que nos passavam. Foi anos mais tarde, com o estudo do Sermão de Santo António aos Peixes do Padre António Vieira, que me deparei com o primeiro opositor aos nossos feitos e à realidade da exploração de terras que já tinham donos.
Temos muita violência, sangue e xenofobia na nossa história, que muita vez nos foi dourada com fortuna e glória por quem nos ensina. Mas há que saber - e aceitar - que também já fomos os maus da fita. Felizmente também "compensámos"- mesmo não havendo compensação para a objectificação de uma vida - sendo dos primeiros países do mundo a abolir a escravatura. E quero pensar que podemos continuar a tentar ser dos melhores na tolerância, respeito e justiça. Seria um orgulho ainda maior ser portuguesa.


Tenham uma óptima semana!

Com amor,
Catarina

4 comentários:

  1. Sem dúvida. Ótimo ponto de vista!

    Beijinho e boa semana!

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  2. Foi, de facto, um período negro da nossa história. Nunca o conseguiremos apagar, mas acho que podemos - e devemos - fazer sempre o melhor possível para que nunca se regrida a esse ponto. Ter consciência do errado permite-nos não repeti-lo.
    Contrariamente a ti, adoro Jamestown :D

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  3. Human beings above everything else!
    O que importa é melhorarmos o nosso compasso moral à cada dia!

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  4. O Padre António Vieira foi obrigado a aceitar que os portugueses levassem africanos para o Brasil porque os indígenas estavam a morrer aos milhares (não eram imunes às doenças europeias), mas não era nem um pouco a favor da escravatura e deixou-o registado nas suas obras: chegou a escrever que os negros estão mais próximos de Deus do que os brancos. Infelizmente teve de levar uma vida de eremita e fugir vezes sem conta porque os portugueses e a própria Igreja estavam a chatear-se com ele e queriam-no preso.
    O que podemos fazer é continuar com a luta do Padre António Vieira e mostrarmos o que escreveste: tolerância, respeito e justiça. E também fomos os primeiros a abolir a pena de morte :)

    Beijinho e boa semana*

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