quarta-feira, 11 de dezembro de 2019

Capitães da Areia e como a desigualdade nos pode levar a não apreciar uma boa obra

Acabei há cerca de uma semana o livro "Capitães da Areia". Até agora, era fã assumidíssima de Jorge Amado, que me conquistou com "Gabriela, Cravo e Canela" e voltou a fazer-me apaixonar pela sua escrita em "Dona Flor e Seus Dois Maridos".
Porém, embora tenha gostado imenso do enredo e da forma como Amado decidiu contar a vida de um grupo de orfãos que vivia do crime, houve pequenas coisas que me levaram a torcer um pouco o nariz e a não apreciar tanto este livro. 
A mais evidente, sem dúvida, foi o racismo. Já não é bom sexualizar crianças pré-adolescentes, mas a diferença com que os rapazes falavam das "negrinhas que derrubavam no areal" e da menina Dora, branca e loira que apareceu no esconderijo deles, em que logo a viram como uma "irmã, mãe, noiva" é gritante.
Não deixa de ser uma obra interessante, que representa a deigualdade social e a completa desumanização do sistema de justiça. Porém, aquela dicotomia trouxe-me algum rancor.



Já há alguns anos, quando li o "Papillon" de Henri Cherrière também achei que, embora fosse uma aventura entusiasmante e arrebatadora, o personagem principal era de tal forma machista e xenófobo que deixei de torcer tanto por ele. 
Sei que os "Capitães da Areia" já foram publicados há mais de oitenta anos, que foi das primeiras obras do autor e que ele mesmo já não refectia tanto este racismo nas obras posteriores. 
Felizmente, considero também que a espécie humana tem estado a evoluir nas questões da igualdade - pelo menos na opinião pública. 
Que continuemos assim.

E vocês, também já sentiram que a vossa apreciação de uma obra clássica foi afetada por razões de desigualdade?


O resto de uma óptima semana!

Com amor,
Catarina

2 comentários:

  1. Adorei este livro! Embora compreenda perfeitamente o teu ponto de vista, acho que esse registo também serve para nos alertar para questões como o racismo, fazendo-nos analisar aquilo que dizemos e o modo como agimos com os outros. Ainda que seja só o meu ponto de vista, que vale o que vale, acabei por interpretar esses exemplos como uma forma de exposição de um problema e não tanto como o seu prolongamento

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